A população negra quer viver e não quer morrer nem por bala, nem por fome e nem por Covid - Anatalina Lourenço, secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT “É um dia nacional de denúncias do racismo, de resistência, luta, de brigar pelo direito à vida nesse momento atual, que é o direito à vida”, completa secretária.
A verdadeira história sobre o 13 de maio
Em quase quatro séculos, o Brasil explorou aproximadamente 4 dos 10 milhões de africanos que foram trazidos para exercer o trabalho escravo. A situação só teve fim por conta da resistência dos negros escravizados, somado ao interesse econômico mundial para que o Brasil deixasse o sistema escravocrata.
Neste dia em que se lembra a “libertação” dos escravos com a Lei nº 3.353, a chamada Lei Áurea, decretada, no dia 13 de maio de 1888 e assinada pela princesa Isabel, o movimento negro prefere não comemorar, mas refletir sobre a resistência e a luta que os trouxeram até os dias de hoje.
A Lei Áurea é vista por pesquisadores e historiadores como conservadora e curta, com pouco mais de duas linhas. A escravidão de fato só teve seu fim do ponto de vista formal e legal há 133 anos, no entanto, a dimensão social e política está inacabada até os dias atuais.
“O 13 maio, que é visto historicamente como o dia da abolição da escravidão como um ato benevolente da coroa portuguesa, a gente precisa explicitar que essa não é essa a verdadeira história. A abolição da escravidão não foi um ato benevolente, ao contrário, ela veio como um processo de pressão para coroa portuguesa e, claro, pelo levante da população negra escravizada que também estava ali atuando”, explica Anatalina.
A promulgação da Lei Áurea foi uma ação recheada de pompa, como observado no registro fotográfico de António Luiz Ferreira, em que uma multidão aguarda do lado de fora do Paço Imperial, no centro do Rio de Janeiro, pela assinatura.
O Império sofria pressões internacionais fortes para tirar da legalidade a possibilidade de se escravizar pessoas. Além disso, aumento das ideias abolicionistas e as constantes fugas e insurreições dos escravizados tornavam a escravização um negócio cada vez menos rentável.
Rosana Sousa, secretária-adjunta de Combate ao Racismo da CUT, concorda com a fala de Anatalina.
“O que a gente percebe até os dias atuais é que a população foi escantilhada e vive ainda uma situação de vulnerabilidade, de uma forma muito precária. No mundo do trabalho, estão nos piores postos de trabalho”.
Não é um dia para celebrar, mas para a reflexão da sociedade brasileira em torno de uma opressão estruturante e que mascara as desigualdades sociais até os dias de hoje. - Rosana Sousa, secretária-adjunta de Combate ao Racismo da CUT
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